Uma viagem surrealista: Salvador Dalí da Flórida a São Paulo


Carolina Magalhães

Inclua aquilo que você ama nas suas viagens. Se você adora gastronomia, pesquise bons restaurantes. Se você não perde uma festa, procure por baladas. Conheço pessoas que nem gostam de viajar, mas são loucas por futebol e daí se deslocam para assistir a um jogo, visitar um estádio. Meu problema: eu gosto muito de quase tudo. Isso faz com que meus roteiros sejam diversificados e desafiadores.

Dito isto declaro meu amor por artes plásticas, especialmente por Salvador Dalí. Admiro aquilo que sou incapaz de produzir: vôlei e arte são os exemplos clássicos, sou incapaz de uma pincelada ou saque e fico boquiaberta com o talento alheio.

Neste 2024 estava planejada uma viagem para os Estados Unidos, com direito a uma roadtrip nos arredores de Miami e Orlando com objetivo de conhecer um pouco das praias do Tio Sam. Se a escola não me tornou uma artista, me ensinou a pesquisar e... tchanãn descobri que um dos mais importantes museus dedicados a Salvador Dalí poderia ser encaixado no roteiro. Fica em St. Petersburg, Flórida.



Com arquitetura moderna impressionante e localização maravilhosa (junto ao porto da cidade), o museu expõe mais de 2.000 peças reunidas ao longo dos anos pelo casal Morse, uma das maiores coleções de Dalí no mundo e a maior fora da Espanha. Estar diante de tantas obras famosas do pintor foi de tirar o fôlego. Por alguns instantes eu desejei profundamente ser a senhora que guiou a visita.

O acervo conta com quadros como A Desintegração da Persistência da Memória, que dá sequência à pintura mais famosa de Dalí, que está no Museu de Arte Moderna de Nova York; Gala contemplando o mar Mediterrâneo que a vinte metros se transforma no retrato de Abraham Lincoln; entre tantos outros com relógios derretidos, ovo, Vênus de Milo...

Meses depois, indo para São Paulo, vi que Desafio Salvador Dalí estava na cidade e me organizei para visitar. O centro da exposição é uma linha do tempo: sob os pés a cronologia do artista, acima a do mundo e nas laterais reproduções gigantescas das 100 pinturas mais importantes fase por fase. Avançamos para uma área que simula o seu ateliê em Figueres, Espanha. Passamos por um espaço interativo, corredores informativos e entramos numa sala com óculos de realidade virtual. Um gran finale: você avista as paisagens que cercavam o artista e vê os quadros surgirem como se você estivesse pintando. E quando parece não poder ficar melhor você é levado para dentro das obras, com girafas gigantes, formigas e todo o universo surrealista.

A pergunta que me fiz em St. Pete volta à cabeça: o que Dalí acharia da tecnologia dos anos 2000? Seu quadro Gala Mirando o Mar Mediterrâneo se transforma num retrato de Abraham Lincoln quando visto a uma distância de 20 metros. Hoje, se você apontar a câmera do celular já verá. Ele proibiria de apontarem celulares para as suas obras ou produziria mais e mais quadros com este recurso? Me arrisco a dizer que estaria inclusive ganhando dinheiro com NFT.

Muito antes de existir a expressão easter egg, era isso que o artista colocava em suas obras e estas ampliações gigantescas revelam detalhes escondidos, acabando com o lúdico de Dalí. Está tudo entregue de bandeja exigindo bem pouco de nós. Mesmo assim, se a exposição passar pela sua cidade, vale muito a visita.

O lúdico para mim foi ficar tentando identificar quais das reproduções eu tinha visto os originais na Flórida. Não sei qual era a emoção maior: rever as obras conhecidas ou me deparar pela primeira vez com as que estão espalhadas pelo mundo. A Espanha que me aguarde, pois incluirei Figueres com seus museus de Dalí no roteiro.


voltar





Viagens Crônicas, por Marcelo Spalding

Entre em contato com o autor.

marcelospalding@gmail.com

CAPA | GUIAS | LIVRO | OFICINA DE ESCRITA | FOTOS | VÍDEOS | CONSULTORIA | EDIÇÃO DE LIVROS | AUTOR