Wicked e uma Broadway no Brasil

Evelyn Marengo

Para a surpresa de muitos venho aqui dizer que temos uma Broadway Brasileira. Sim, os aclamados musicais das ruas de Nova York estão sendo traduzidos e transformados em espetáculos em português, com atores tão talentosos e dedicados que nos fazem esquecer que aquilo que estamos a milhas e milhas dos Estados Unidos.

Esse movimento acontece especialmente em São Paulo, onde os seus diversos teatros acolhem produções de peças recebendo pessoas de todo o país. Sendo também o local de concentração dos atores teatrais brasileiros, que mostram o enorme talento que o país tem para oferecer. Em 2023, por exemplo, trouxe o musical Wicked de volta para o teatro, dirigido por John Stefaniuk. Contando com as mesmas protagonistas que estrelaram a versão de 2014, as atrizes Myra Ruiz e Fabi Bang. Essa versão adota um novo guarda-roupa, arranjos, cenários, maquiagens fantasias de personagens e efeitos especiais de cair o queixo. Wicked Brasil contou com diversas sessões, tendo quase todas com sua plateia lotada. Eu fui uma das pessoas sortudas de ter presenciado essa segunda temporada, e quando digo sortuda, eu realmente quero dizer sortuda. Morando em Porto Alegre, essas oportunidades são mais escassas, então para experienciar a peça fui a São Paulo, e acabei tendo uma das viagens mais incríveis da minha vida.

A história é uma nova visão à vida da bruxa má do Mágico de Oz, mostrando que toda história tem dois lados. O musical foca em amizades, crescimento e cegamento político, contando com músicas emocionantes. Seguimos Elphaba e Glinda, em seus anos de faculdade, elas que futuramente se tornarão a Bruxa Má do Oeste e Bruxa Boa do Sul.

Com apenas algumas notas da música da orquestra, já me senti flutuando, afinal esse é um dos meus musicais mais queridos e gostaria de ver o que a nossa versão “abrasileirada” traria. Tive o grande prazer de ver o quanto carinho foi colocado nessa produção, tanto com as piadas da nossa cultura pop improvisadas todas as noites pelas atrizes quanto os momentos sérios que traziam lágrimas nos olhos. O eterno talento de canto e dança do elenco deixa qualquer um hipnotizado, tentando analisar cada instante e canto do palco. As traduções das músicas ficaram tão perfeitas que fui aprender todas as letras de novo, mas agora em português.

Mas é impossível pensar em Wicked e não falar de um dos grandes momentos do musical, o grande solo da personagem Elphaba com a música “Defying Gravity”. Marcando o final do primeiro ato, a bruxa aceita ser quem é, sem arrependimentos. Ela escolhe ir em busca da verdade e sua moralidade, sem temer as grandes consequências que virão para ela. É com certeza um número emocionante apenas pela letra da música, mas para quem não sabe, a bruxa verde canta suas últimas notas agudas “voando” por cima do palco. Mas como o Brasil gosta de contar com suas grandes apresentações elaboradas, foi dada uma mudança ao momento final, deixando ainda mais impactante. Na nossa versão, Elphaba sobe em sua vassoura e voa por cima da plateia baixa, ficando cara a cara com o mezanino, cantando sobre desafiar a gravidade e como ninguém poderá a derrubar. Particularmente, sendo muito fã de musicais e estando sentada na linha de frente do mezanino, eu me senti completamente conectada com o momento, me arrepio lembrando do quão lindo foi.

O que vem depois também não desaponta nem um pouco. O segundo ato contém momentos mais sombrios e reflexivos. Temos os personagens mais velhos e mais conectados com os sentimentos, que com certeza trazem ainda mais sentimentos para os telespectadores. Principalmente durante a música “For Good”, onde ambas as bruxas lembram de sua amizade e se perdoam por possíveis erros do passado.

Digo que essa experiência me trouxe apenas mais amor ao teatro, assim como orgulho de ver o quão linda é a nossa cultura e artistas. Com a grande fama que esse espetáculo conseguiu, diversas outras produções estão sendo traduzidas e feitas e até refeitas pelo Brasil afora. Mal posso esperar para ver os próximos.

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