O grande risco de se privatizar pontos turísticos naturais


Marcelo Spalding

Sempre ouvi falar dos cânions de Itaimbezinho como uma das atrações turísticas mais importantes e tradicionais do Rio Grande do Sul, daquelas que os nossos pais têm foto de quando eram pequenos com seus pais. E embora seja próximo da capital, só em 2024 fui até lá. E a experiência não foi boa.

Primeiro, o óbvio: o lugar é lindo, a vista é deslumbrante em alguns pontos, a natureza sabe ser grandiosa e nos surpreender. Mas desde 2021 o parque foi privatizado pelo governo federal de então, e o acesso, que era gratuito, passou a ser cobrado. Resultado, pagamos mais de R$ 200,00 para 2 pessoas + estacionamento (pior é que se você quiser alugar uma bicicleta para ir até a vista mais bonita custaria mais R$ 50,00 para cada um por uma única hora!).

Além disso, o pórtico do parque, a partir do ponto em que só se entra com ingresso, está MUITO antes das atrações, impedindo que pessoas a pé cheguem e inclusive acessem os espaços gratuitamente. Aí me pergunto: a natureza não deveria estar ali para todos? Como pode um governo repassar a uma entidade privada o direito ao acesso a um cânion, uma montanha, um rio, uma praia?

Claro que os empreendedores investiram no local, em um dos parques foi criada até uma tirolesa (demos azar, embora tivéssemos ingresso para o parque onde tem a tirolesa, ao chegarmos lá havia tanta neblina que não se enxergava um palmo na frente e não pudemos fazer). Mas me parece que permitir a uma empresa criar atrações, estacionamento, disponibilizar bicicletas e cobrar por isso é até salutar, pois mantém os espaços movimentados, limpos e atrativos, agora cobrar para que a pessoa acesse uma vista, impedindo ou dificultando o acesso de outra forma, é muito mesquinho.

Aliás, o Parque do Caracol também foi privatizado (ou concedido à iniciativa privada, como seria o termo mais correto) em 2022. E hoje para ter a melhor foto da cascata (grande atrativo do parque e símbolo da cidade de Canela) é preciso ou pagar para o fotógrafo oficial ou pagar para subir em um elevador que dá uma vista panorâmica (atrás de um vidro). Lembro de antigamente não apenas ter uma visão mais clara e frontal da cascata como também descer mais próximo dela.

Voltando ao caso do Itaimbezinho, para piorar, o acesso de carro ao parque é péssimo, mais de meia hora em um trecho de pedregulhos, risco enorme de quebrar o carro. Ao comentarmos com o pessoal dos parques, disseram que o asfalto da estrada é com o governo (mesmo na parte de dentro do parque!). Curioso isso, os R$ 100,00 de ingresso então não cobrem o acesso ao próprio parque...

O resultado dessa ganância é que a região tem perdido muitos turistas, o que já preocupa a população de Cambará do Sul (cidade em que ficam os cânions).

Enfim, espero que esse tipo de privatização que limita o acesso a locais únicos, patrimônios da humanidade e do país, tenham regras mais rígidas e pensem na população como um todo.


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Viagens Crônicas, por Marcelo Spalding

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